Ao passo em que dá sinais de desaceleração em São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, a pandemia da Covid-19 avança sobre o estado de Minas Gerais, que pode passar pelo pico da curva de contaminação nesta semana, de acordo com estimativa das autoridades locais.
Para te ajudar a entender qual o panorama da Covid-19 nos quatro estados da região Sudeste, o Brasil 61 fez um levantamento dos principais indicadores e dos posicionamentos recentes dos governadores locais sobre o tema. Especialistas apontam que a situação de Minas Gerais e a interiorização da doença em solo paulista são as preocupações do momento.
São Paulo
Dados apontam que a pandemia da Covid-19 está desacelerando em São Paulo. De acordo com o governo estadual, já são três semanas seguidas de queda no número de mortes por causa do novo coronavírus. Na última semana, foram 1.706 vítimas, 27 a menos do que na anterior. Os índices, no entanto, indicam a preocupação com o avanço da doença no interior do estado que, ao contrário da capital e da Região Metropolitana, teve crescimento de 12% no número de óbitos.
Campinas exemplifica a situação. Recentemente, a cidade foi reclassificada e, agora, está na fase vermelha do plano, que proíbe o funcionamento de todos os serviços e atividades considerados não essenciais. O mesmo ocorre nas regiões de Ribeirão Preto e Araçatuba, por exemplo. Na última semana, outras regiões, como Presidente Prudente, Bauru e Marília conseguiram sair da fase e avançaram para a laranja.
Segundo Valdes Roberto Bollela, professor de Infectologia da Universidade de São Paulo (USP), a Covid-19 vem se alastrando pelo interior paulista após atingir a Grande São Paulo com mais força nos meses anteriores. “A gente estava vendo um grande número de casos em São Paulo e, no interior, as coisas estavam bem devagar. De repente começou a aumentar e nas últimas duas, três semanas, nós estamos com leitos de enfermaria e de CTI bem próximos do limite, inclusive porque houve abertura de vários serviços no momento em que a doença estava crescendo aqui”, explica.
Desde junho, o governo paulista põe em prática o “Plano São Paulo”, que estabeleceu a retomada da atividade econômica. Os 17 Departamentos Regionais de Saúde estão divididos segundo uma escala de cinco níveis de abertura. Os critérios para a retomada são a ocupação dos leitos de UTI, o número de novas internações e de óbitos. A capital está na fase 3 (amarela) do plano de retomada, o que permite que bares, restaurantes, salões de beleza e barbearias funcionem, por exemplo, além dos shoppings centers e comércio de rua, liberados ainda na fase 2 (laranja).
De acordo com o último boletim epidemiológico, São Paulo tem 393.176 ocorrências da Covid-19 e 18.640 óbitos. Na última sexta-feira (10), o governador João Dória afirmou que o estado está entrando no platô, ou seja, na estabilização da curva de casos que antecede a diminuição das ocorrências. “Estamos ingressando numa fase de platô, depois de um longo período enfrentando o pico, não apenas na capital, como em todo o Estado de São Paulo. Isso não significa relaxamento, distensão total e absoluta.”
A taxa de ocupação de leitos para pacientes com a Covid-19 está em 66,5%. Ao todo, São Paulo já gastou R$ 2,16 bilhões em ações de combate ao coronavírus, maior valor entre todas as unidades da federação.
Rio de Janeiro
Assim como em São Paulo, o estado do Rio de Janeiro vive dias mais tranquilos em relação à pandemia da Covid-19. Nas últimas semanas, a capital fluminense e municípios do interior registraram queda no número de casos confirmados e no de óbitos.
De acordo com a Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro, a taxa de ocupação de leitos na rede estadual é de 49% em enfermaria e de 35% em UTIs. Até aqui, são 134.449 casos e 11.757 mortes pela Covid-19.
O governador Wilson Witzel decretou na terça-feira (7) que algumas medidas restritivas seguem valendo até o dia 21. Praias, lagoas, rios, piscinas públicas e clubes continuam vetados. Setores do comércio e da indústria podem funcionar, além de igrejas e shoppings.
Já a capital tem um plano de reabertura próprio, dividido em seis fases. Atualmente, está na chamada fase “3B”. No último fim de semana, além de todos os comércios, incluindo salões de beleza, bares e restaurantes — que já estavam abertos — as praças e parques da cidade do Rio voltaram a funcionar.
Minas Gerais
O pior da pandemia ainda está por acontecer em Minas Gerais, infelizmente. É o que estimam os técnicos da administração estadual e o próprio governador, Romeu Zema. Em seu perfil no Twitter, o chefe do executivo local escreveu: “Nesta semana, Minas Gerais passará pelo pico da curva de casos da Covid-19. Estou monitorando de perto, com reuniões diárias no Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública, a situação em todas as macrorregiões do estado, para que não falte atendimento a nenhum mineiro”.
O pico da Covid-19 foi previsto, mais precisamente, para esta quarta-feira (15). No entanto, os especialistas apontam que só será possível ter essa confirmação após o número de casos começar a cair. É o que explica Unaí Tupinambás, infectologista e membro do Comitê de Combate à Covid-19 em Belo Horizonte.
“Prever um pico de uma doença é sempre muito complicado, porque trabalhamos com números e algumas questões imponderáveis. Nós já temos aumento nos casos e só vamos ver se chegamos ao pico da Covid em Minas, quando os mesmos começarem a estabilizar em um patamar por alguns dias e, a partir disso, houver queda”, avalia.
Segundo estado mais populoso do país, Minas Gerais conseguiu adiar a ascensão da curva de contaminação, diferente de São Paulo, por exemplo. Para o infectologista, isso permitiu que os gestores tivessem mais tempo para estruturar o sistema de saúde mineiro para o momento de maior estresse. “Esse tempo que nós ganhamos foi fundamental para nos prepararmos de forma mais adequada. Tanto é que Belo Horizonte é uma das capitais com menor número de mortes por 100 mil habitantes. Com certeza, a pessoa que interna hoje no CTI tem muito menos chance de morrer do que se internasse em março, por exemplo”, avalia.
A taxa de ocupação de leitos no estado é de 70,4%, mas em algumas macrorregiões, como no Triângulo do Norte e Vale do Aço, o indicador está próximo de 90%. Segundo o Portal da Transparência do estado, já foram gastos R$ 261 milhões no Programa de Enfrentamento à Covid-19.
Devido ao avanço do coronavírus vírus em solo mineiro, Zema não descarta decretar um bloqueio total em algumas cidades, onde apenas serviços e atividades essenciais poderiam funcionar.
Espírito Santo
No Espírito Santo, o número de mortes cai há um mês. Na semana epidemiológica nº 28 foram 214 novas mortes contra 239 na semana nº 27. Nos sete dias anteriores foram 245 e na semana epidemiológica nº 25 foram 269 óbitos. Apesar de o número de casos por semana estar crescendo, há uma queda evidente na letalidade da doença, uma vez que menos pessoas estão morrendo por Covid-19.
Os hospitais do estado estão com cerca de 78% dos leitos de UTI para pacientes com o novo coronavírus ocupados. De acordo com a Secretaria de Saúde do Espírito Santo, são 66.352 casos confirmados, dos quais 2.097 evoluíram para óbito. Para, Nésio Fernandes, chefe da pasta, a Região Metropolitana de Vitória estaria entrando num platô, devido à estabilização da curva de contaminação.
O governador Renato Casagrande ainda não apresentou um plano de retomada da atividade econômica. Para minimizar o impacto econômico da crise sobre as empresas do estado, o governo adotou medidas que vão desde a oferta de linhas de crédito para micro e pequenos empreendedores à prorrogação de prazos para o cumprimento de obrigações relacionadas aos impostos. Além disso, o governo capixaba já gastou mais de R$ 220 milhões em ações de enfrentamento à pandemia desde o dia 12 de março.