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Publicado em 26/06/2020 – 20:31 Por Juliano Justo – Repórter da TV Brasil e Rádio Nacional – São Paulo

O mês era agosto de 2019. A cidade era Szeged, na Hungria. Foi lá, no Mundial de Paracanoagem, que Fernando Rufino, conhecido como o “Cowboy de Aço”, chegou em sexto lugar na prova do caiaque KL2 200m e conquistou a vaga para os Jogos Paralímpicos de Tóquio de 2021.

Assim, ele escreveu mais um capítulo de uma história interrompida lá atrás, em julho de 2016. Às vésperas dos Jogos do Rio de Janeiro, já com a vaga garantida, o ex-peão de rodeio foi cortado da equipe nacional após ser diagnosticado com um problema cardíaco, depois de realizar exames que constataram uma elevação da pressão arterial.

“O ser humano não pode desistir diante de nenhuma adversidade. Desde que eu entrei na paracanoagem, em 2012, o sonho sempre foi estar em uma Paralimpíada. Nem sabia o que era um caiaque, depois fui tomando conhecimento da dimensão do evento. Agora, eu sei que, se existir alguém em Marte, acho que até eles acompanham os Jogos. É algo grandioso. Eu digo que eu não tenho a medalha. Mas conquistei o cordão da medalha lá no Rio “, comentou o Cowboy à Agência Brasil.

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E é justamente no ano que vem, nos Jogos de Tóquio, que ele vai poder completar essa história indo para o pódio.

“Não é uma expectativa de hoje, de agora. Já estamos há anos falando de Tóquio. Não é qualquer campeonato. Vou estar velhinho, com uns 80 anos, e lembrando de 2021”, projetou o atleta da classe KL2 (para pessoas que usam o tronco e os braços na remada). Depois de ser cortados dos Jogos do Rio de Janeiro, Rufino passou dois anos fora das competições de alto nível. Só retornou, em agosto de 2018, no Mundial de Portugal.

Mesmo com a pandemia de covid-19 tendo complicado bastante a periodização de treinos, o Cowboy busca alternativas para seguir no rumo da medalha. “Tem que ter uma meta, um norte na cabeça para sabermos que temos esse compromisso. Eu falo bastante com o João Tomasini (presidente da Confederação Brasileira de Canoagem – CBCa), Vitor Loni (preparador físico), Thiago Pupo (técnico). Estou bem otimista, confio demais neles. Eles passam as metas e eu bato todas elas. Então, falo “é nóis””.

Treino na água, o atleta faz no Rio Paraná, no município de Itaquiraí (MS). “Mas não é fácil, amigo. O bicho é grande, fundo e perigoso, tem jacarés, sucuris, piranhas. Aqui, o pau tora. Não é uma lagoinha qualquer. Eu tenho um pouco de medo. E nesse período tem bastante vento aqui na cidade. Por isso, tenho evitado um pouco entrar na água”.

Evento-teste e festa

No ano passado, em setembro, a equipe brasileira da modalidade esteve no Japão para participar do evento-teste, ocorrido no Sea Forest Waterway, palco dos jogos do ano que vem. Luís Carlos Cardoso ficou com a prata no KL1 e o bronze no VL2. Caio Ribeiro faturou a prata no VL3. E o Fernando Rufino ficou com o ouro no KL2 e a prata no VL2. Todas as provas ocorrem na distância de 200 metros. E na volta para casa, o Cowboy foi homenageado com uma carreata pelas ruas de Itaquiraí (MS), onde o atleta nascido em Eldorado (MS) reside há mais de 20 anos. “Coisa bonita de se ver. Veio um caminhão dos Bombeiros. Subi lá em cima com a minha família. Foguetório, gente, carro. Foi bacana demais. Momento de reconhecimento. Por todos nós daqui do interior, ter alguém daqui que conseguiu chegar lá no Japão, no outro lado do mundo, e voltou com medalhas é demais. Eu sempre represento todos eles”.

Canoa e caiaque em Tóquio

A paracanoagem surgiu em 2009, através de uma iniciativa da Federação Internacional da modalidade olímpica. O primeiro Mundial do esporte foi disputado em 2010, em Poznan, na Polônia, e contou com a participação de atletas de 31 países. No programa paralímpico, a modalidade ingressou nos Jogos do Rio de Janeiro em 2016 apenas com as disputas no caiaque. E, nos Jogos de Tóquio, a canoa também estará presente. E deve ter uma disputa bem acirrada entre brasileiros pelas medalhas na categoria VL2. Fernando Rufino – que venceu a Copa Brasil em março deste ano em São Paulo, mas, segundo a CBCa, ainda aguarda a definição oficial da sua vaga nessa prova em Tóquio depois de algumas alterações causadas pela pandemia – e  Luís Carlos Cardoso, dono de 12 medalhas em Mundiais, podem ficar lado a lado nas raias japonesas. “Eu sei que seria uma grande prova. Se acontecer, será uma honra dividir a raia com ele, que é um super-heroi do esporte brasileiro. Em relação aos dois barcos, o caiaque e a canoa se ajudam mutuamente. Na canoa, se rema de um lado só. Isso ajuda para a largada nas provas do caiaque”.

Rotina incrível de acidentes e a pandemia de covid-19

Rufino ingressou na paracanoagem em 2012, sete anos após sofrer um acidente que o deixou paraplégico, impossibilitando que ele seguisse como peão de rodeio. “Estava em um ônibus. Não sei como a porta abriu, e eu cai para fora. Fui para debaixo dele. E o ônibus acabou me moendo. Fui arrastado e tive a lesão medular”. Mas essa foi apenas uma das muitas histórias que ele tem para contar. O Cowboy já foi pisoteado por um touro, sofreu graves acidentes de moto, teve a casa atingida por um raio, além de várias fraturas.

“A cada ano é uma coisa. Só no ano passado que não teve nada, Graças a Deus. Em 2018, estava na academia fazendo aquele exercício pullover e uma anilha de 20 quilos acabou saindo da rosca e caiu bem no meu nariz. Muito sangue”, lembrou o Cowboy.

Ele lembra também do acidente com o raio. “Muitas pessoas duvidam. Mas foi o pior acidente da minha vida. Três dias depois, eu ainda sentia aquele cheiro de pólvora. Foi um dos que eu senti mais medo. Foi bem complicado”.

Agora, já recuperado fisicamente de todos os acidentes, o próximo desafio que ele deverá enfrentar é a pandemia da covid-19, que já forçou o adiamento da Paralimpíada para 2021. “Lá, em 2016, eu já estava com a vaga e não pude participar por causa do problema no coração. Agora, só o que me faltava é esse vírus não deixar eu realizar o meu sonho de conquistar a medalha. Mas, se ele quiser, pode vir, porque aqui tem ferro no corpo por todo lado. Vai ser mais uma história para contar. E tomara que acabe lá em 2021 com as medalhas em Tóquio”.
 

Edição: Liliane Farias

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