O Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) elaborou um protocolo para a retomada de atividades paradesportivas em locais onde exista permissão das autoridades sanitárias municipais e estaduais. O documento de 64 páginas, ao qual a Agência Brasil teve acesso, elenca medidas de prevenção de contágio para pessoas com deficiência, procedimentos necessários para o retorno aos treinos, orientações quanto à realização de testes, uso de máscaras, higienização, distanciamento e rotina – ida e volta para casa e acesso a estruturas esportivas, por exemplo.
“Esse protocolo vai ser submetido às autoridades municipais e estaduais para que a gente vá acompanhando. O cenário muda todo dia. Um dia vai ter lockdown, no outro dia é abertura… A única coisa que dá para fazer é exatamente nos prepararmos para voltar [às atividades] quando for permitido e possível. É um documento que a gente entende que garante a segurança dos atletas, técnicos e todos envolvidos nessa operação”, afirma o presidente do CPB, Mizael Conrado, à Agência Brasil.
O documento redigido pelo Comitê recomenda, primeiramente, atenção à curva de contágio local pela covid-19 e às estruturas disponíveis na rede privada de hospitais e pronto-socorros e no Sistema Único de Saúde (SUS). Estabelece, por exemplo, que a taxa de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para a doença não esteja superior a 90% na região.
A orientação é que atletas e demais profissionais respondam a formulários que ajudem a detectar casos suspeitos do vírus. Em seguida, recomenda-se a realização de testes laboratoriais. “Isto buscará evitar que indivíduos assintomáticos ou oligossintomáticos sejam agentes transmissores, contaminando o ambiente e os frequentadores, além de serem possíveis agentes contaminadores”, diz o documento. Em casos suspeitos ou contato com alguém infectado, o protocolo indica que a pessoa faça o teste “em, no máximo, 72 horas após a exposição”, repetindo-o em até 10 dias e que não retorne aos exercícios sem liberação médica.
O protocolo determina o retorno aos treinos em fases, dividindo as modalidades entre as de baixo risco de contágio (atletismo, natação e tiro com arco, entre outras), moderado (por exemplo, basquete em cadeira de rodas) e alto (lutas e esportes coletivos de contato, como judô, goalball e futebol de cinco, para atletas com deficiência visual).
Entre as recomendações gerais, estão:
– Reunir poucos atletas ao mesmo tempo e manter o grupo nos demais dias de treino.
– Manter períodos curtos de atividade diária individual ou por grupo, conforme a fase do treinamento.
– Não compartilhar equipamentos e higienizá-los com álcool em gel ou líquido.
– Manter assistência médica, preferencialmente UTI móvel, durante os treinos.
A fase inicial consiste em treinos individualizados ou em grupos pequenos, preferencialmente em espaços abertos. A segunda fase autoriza grupos maiores e trabalhos individuais com intensidade máxima. Avaliações científicas e fisioterapia já poderão funcionar presencialmente nesta etapa. “Esta fase só pode ser iniciada se a fase anterior for completamente cumprida, os índices da doença estejam controlados, e a localidade possua capacidade total para recepção de eventual aumento de curva de contágio pelo afrouxamento das medidas”, alerta o protocolo.
Já a terceira e última fase é a de retorno próximo a competições. Segundo o documento, as medidas implementadas “devem ser mantidas mesmo após o período imediatamente posterior à recuperação plena da pandemia, servindo esta situação de crise para procurar novas práticas de higienização que visem prevenir uma situação equivalente”. Ainda de acordo com o protocolo, deve-se levar em consideração a realização de eventos sem público na retomada.
Atletas e estrutura
O protocolo também elenca orientações voltadas especificamente aos atletas e estabelecimentos. Durante a prática esportiva em ambientes abertos ou piscinas, por exemplo, o treino pode ser feito sem máscara – que deve ser recolocada assim que a atividade acabar – mantendo um distanciamento de 1,5 metros a dois metros. Em ambientes internos, a distância recomendada é maior que 2,5 metros e, no caso de modalidades mais estáticas ou de baixa intensidade, a pessoa deve manter a máscara.
Aos atletas, também é orientado usar o mínimo possível de utensílios – como brincos, anéis e correntes – para facilitar a higienização, ir à rua com a roupa de treino, evitar transporte público ou caronas, tomar banho imediatamente após retornar para casa e desinfetar o que ficou exposto, como óculos, mochilas ou celular. O documento aconselha o isolamento social fora do período de atividades e que participações em eventos sociais ou locais com aglomeração sejam suspensas.
Já entre as recomendações às estruturas esportivas, está abrir somente um banheiro masculino e um feminino, limpá-los sempre que os boxes forem utilizados e restringir acesso a espaços fechados, como academia, a exceção da piscina. Se o local recebe vários esportes, deve-se evitar o mesmo acesso às diferentes modalidades, permitir acompanhante só para atletas que necessitam de atendimento especial e marcar distâncias de segurança no solo com adesivos ou fitas, além de oferecer álcool em gel e aferir a temperatura de quem estiver no local – se estiver acima de 37,5 graus, o atleta não poderá treinar.
Centro Paralímpico
Fechado desde março devido à pandemia do novo coronavírus, o Centro de Treinamento Paralímpico é o principal equipamento voltado ao esporte adaptado de alto rendimento no país. O local, que normalmente abriga atividades de seleções variadas – como atletismo, natação ou tênis de mesa – e é sede do CPB, opera, atualmente, com menos de 5% dos funcionários. Segundo o protocolo, a liberação da estrutura para atletas seguirá as determinações da prefeitura de São Paulo e do Governo do Estado, que estabeleceu um processo de reabertura regional em cinco fases – quanto mais avançada, menor o risco apresentado e maior a flexibilização.
A cidade de São Paulo está na segunda fase, que permite a reabertura de concessionárias, escritórios e shoppings – com restrições. “O retorno às atividades do CT está condicionado à adequação das diversas atividades praticadas nele e à aplicação deste planejamento, com as orientações das pelas autoridades locais. Tanto as fases de retorno quanto as zonas regionalizadas podem sofrer rápidas mudanças ao longo do tempo, sendo necessárias novas adequações aos planos, inclusive retroação de ações”, descreve o protocolo, que dedica um capítulo à retomada das atividades no local, mas ainda não crava data para a liberação.
No capítulo, o documento descreve o procedimento de retomada dos treinos das seleções de atletismo e natação, modalidades das quais o CPB é responsável. No protocolo, o Comitê entende que o modelo poderá servir para outros esportes. A natação, por exemplo, prevê um retorno com grupos de oito atletas na piscina olímpica (50 metros) ou cinco na piscina de 25 metros, em atividades de uma hora – que, a partir da fase dois, pode chegar a duas horas. No atletismo, o grupo inicial também será de oito pessoas, com quatro velocistas, um fundista, um saltador e dois lançadores, em treinos de, no máximo, 90 minutos.
Grupo de risco
O protocolo ainda lembra que entre as pessoas com deficiência, há “um grupo de risco que compreende as que apresentam condições relativas à deficiência, principalmente com restrições respiratórias, dificuldades na comunicação e cuidados pessoais, além daquelas em condições autoimunes ou ainda que usem imunossupressores ou imunomoduladores”. Menciona, também, que pessoas com deficiência no quadro neurológico podem apresentar sintomas associados à covid-19 como piora brusca na saúde, perda de memória e (ou) confusão mental, redução de força, fadiga repentina e, na forma mais grave do vírus, dificuldade de resposta à pneumonia e instalação de uma doença sistêmica.
Outro grupo destacado é de pessoas com deficiência visual, que necessitam constantemente de contato para locomoção – tanto que as atividades desse público figuram entre as de alto risco de contágio. O protocolo recomenda, por exemplo, que se priorize a utilização de bengalas e cães-guias no auxílio à movimentação ao invés de pessoas. Orienta, ainda, que os equipamentos – assim como andadores ou cadeiras de rodas, nos casos de comprometimento físico-motor – sejam higienizados uma vez ao dia e sempre após qualquer tipo de deslocamento externo.
O documento faz, por fim, recomendações gerais sobre higiene pessoal (lavagem frequente de mãos, desinfecção obrigatória ao se entrar no estabelecimento, manter unhas curtas), sanitização de ambientes (janelas e portas abertas, remoção do lixo de duas a três vezes no dia) e reforça o distanciamento social, alertando sobre a atenção redobrada no caso de pessoas com deficiência.
Edição: Verônica Dalcanal