A pandemia do novo coronavírus trouxe uma nova realidade para quem vive no campo. Além da questão econômica, com produção parada e preços mais altos para insumos, por exemplo, o agricultor se deparou também com cuidados extras com higiene antes, durante e depois da produção dos alimentos.
No mercado leiteiro, boa parte dos produtores passaram a adotar medidas de segurança antes comuns a outros sistemas de produção, como suínos e aves. O pesquisador da Embrapa Marcio Roberto Silva comenta que controle de brucelose, de tuberculose e de vacinação dos animais para a febre aftosa está entre as medidas que já eram praticadas por esse mercado antes mesmo da pandemia.
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“Depois da pandemia de covid-19, esses cuidados continuam, mas na questão de higiene e ordenha os cuidados foram redobrados para evitar que esse vírus entre na cadeia do alimento. Não tem nada provado ainda que o alimento possa levar algum risco da doença para o ser humano, principalmente porque esse leite vai ser pasteurizado – e a pasteurização destrói o novo coronavírus. Mas todo cuidado é pouco”, comenta.
O pesquisador, especialista em medicina veterinária pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e doutor em saúde pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), lista algumas dicas para produtores da cadeia de leite tomarem nesse período de crise sanitária.
1 – Lavar as mãos com água e sabão antes de iniciar a jornada, durante o manejo com os animais e ao final do trabalho. “Quando possível, tomar banho antes de entrar na área limpa da ordenha”, sugere o pesquisador.
2 – Evitar tocar olhos, nariz e boca, mesmo com as mãos lavadas. Quando espirrar ou tossir, cobrir a boca usando toalha de papel e descartar no lixo orgânico. O pesquisador comenta que, “na falta de toalha de papel, usar o antebraço, nunca as mãos.”
3 – Botas, macacões e aventais são equipamentos de proteção individual (EPIs). Devem ser utilizados somente na propriedade e lavados periodicamente. Quem trabalha na ordenha, deve manter unhas curtas e cabelo preso com touca ou boné.
4 – Não compartilhar objetos pessoais, como toalha de rosto, copo, cigarro, chimarrão e tererê. “O nome ‘objeto pessoal’ não é à toa, é de uso individual mesmo”, lembra Marcio.
5 – Higienizar equipamentos e ferramentas de uso comum, veículos e as instalações com desinfetantes a base de hipoclorito 0,2% ou álcool 70%. É importante evitar o acúmulo de matéria orgânica, que dificulta ou inviabiliza a ação de desinfetantes. Não é aconselhado varrer a seco refeitórios, banheiros e escritórios. “E tenha cuidado especial na sala de ordenha. É fundamental realizar o processo de limpeza e desinfecção duas ou três vezes por dia, após cada ordenha”, pontua o pesquisador da Embrapa.
6 – Evitar aglomerações. Reduzir o número de trabalhadores em escala em um mesmo local. É importante respeitar o distanciamento de pelo menos um metro entre as pessoas. Quando for necessário ir a centros urbanos, evitar levar toda a família. No deslocamento em veículos com outras pessoas, usar máscaras e manter janelas abertas para a troca de ar.
7 – Planejar a compra de insumos, tornando a ida ao comércio e a entrada de veículos na propriedade menos frequentes.
8 – Resolver o que for possível por telefone. Se for necessário receber um visitante, não tenha contato direto, como aperto de mão, e evite o acesso a áreas de trânsito dos animais. O caminhão que busca o leite, o que entrega ingredientes da dieta e outros veículos externos devem circular por locais diferentes das áreas de trânsito de animais. Além disso, é importante que passem pelo rodolúvio (túnel de desinfecção de veículos) para lavar os pneus.
9 – Os prestadores de serviço técnico devem usar um conjunto de EPIs para cada propriedade e tomar cuidados básicos, como lavar as mãos e os calçados logo na chegada.
10 – Repassar aos trabalhadores da fazenda o programa de biosseguridade e as ações a serem executadas, para que nenhum passo seja negligenciado.
“Esses são cuidados adicionais importantes, além de evitar aglomerações e manter o distanciamento social”, finaliza o pesquisador.