Iriana Cadó – Brasil de Fato | São Paulo (SP) | 17 de Junho de 2020 às 19:48
Nesta semana, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os mais recentes dados sobre o mercado de trabalho na “nova” PNAD/Covid. Amparada sob uma nova configuração metodológica, a pesquisa busca se adaptar as medidas de isolamento social e, procura trazer respostas às questões que se referem a esta nova realidade social, deflagrada pelo novo coronavírus.
A analise dos dados referentes ao mês de maio nos possibilita tecer importante reflexões sobre o mercado de trabalho frente ao cenário de pandemia no Brasil. A primeira delas, se refere a taxa de desemprego, que chega ao final de maio aos 11,4% da população, ou seja, 10,9 milhões de pessoas estavam desempregadas. Se olharmos para este dado somente, pode parecer que temos uma conjuntura “tranquila” e, até melhor, que outros momentos recentes da nossa economia.
Entretanto, quando desdobramos estes dados, e olhamos outras variáveis percebemos o contorno dramático que o mercado de trabalho brasileiro repousa. A primeira delas é número recorde de pessoas fora da força de trabalho, ou seja, o recorde do número de pessoas que está desempregada, mas, por algum motivo não está procurando emprego. Seja pelo isolamento social, ou pela impossibilidade derivada do acumulo das tarefas do lar – muitas mulheres se enquadram nesta condição ou, até, pela falta de perspectiva de encontrar uma oportunidade.
Hoje, nessa situação, se encontram 75 milhões de pessoas, ou seja, 41% do total de pessoas em idade para trabalhar se encontram fora da força de trabalho. Dentre estes sujeitos, de acordo com a pesquisa, 26 milhões (34,5%) gostariam de trabalhar. Importante destacar que, na última pesquisa divulgada pelo IBGE referente ao primeiro trimestre de 2020, este número era de 9 milhões de pessoas, ou seja, o aumento é, sem dúvidas, muito expressivo.
Desta forma, se estas pessoas começassem a procurar emprego de forma ativa, enviando currículos, pressionando o mercado de trabalho em busca de vagas e, assim, retornassem ao que é considerado força de trabalho, teríamos uma taxa muito mais elevada de desemprego.
Se somarmos estes dados temos que, o total de pessoas que gostariam de um emprego, são 36,6 milhões de pessoas, mas só 10 milhões são consideradas desocupadas. Se, portanto, considerarmos que todas as 36,6 milhões de pessoas poderiam voltar a procurar emprego, de partida, poderíamos chegar a uma taxa de desemprego de aproximadamente 29%, muito mais elevada do que a anunciada.
Ou seja, é impossível avaliar que estamos em uma situação “favorável” só pelo baixo número de pessoas que compõem a taxa de desocupação. Isto porque, o cenário é tão mais desalentador, que as pessoas além de estarem desempregadas, não estão conseguindo procurar emprego pelas dificuldades impostas pelo atual momento.
Além disso, a falta de sinalização por parte do governo pela manutenção e, até mesmo, a ampliação das politicas que visem manter o emprego e a renda faz com que este cenário possa ser ainda mais devastador nos próximos meses. Os trabalhadores estão lançados a sua própria sorte.
*Iriana Cadó é economista especialista em economia social e do trabalho. Militante da Consulta Popular.
Edição: Rodrigo Chagas