Caneladas e canetadas

  Chico Brinati 

  Calma, antes que os ufanistas venham com pedras na mão e vuvuzelas de Brasil-sil-sil no meu ouvido, quero dizer que torço pelo nosso País acima de tudo. Na África, porém, os hermanos levam a Copa. Estou com essa intuição desde 2006, quando vi nos vizinhos uma equipe aguerrida, com bons nomes no meio, e que caiu nas Quartas diante da Alemanha.

  Agora, eles voltam maduros e mordidos. Sem Cambiasso, Zanetti e Riquelme, é verdade, mas com Mascherano, Verón, Maxi Rodrigues e um ataque de respeito. E que ataque: são seis jogadores de frente numa lista de 23 (na de Dunga, tem seis volantes). Palermo, o amuleto; Tevez, o Carlitos; Milito e Higuaín, candidatos a novos Batistuta e Caniggia; Lionel e companhia.

  É uma geração acostumada a vencer Olimpíadas e Mundiais Sub-20.É a melhor Argentina dos últimos anos, pelo menos no papel. Além do mais, Maradona tem estrela. "Conquistou 1986 sozinho", dizem. Se não tivesse escolhido o caminho torto da carreira, teria sido melhor ainda. Mas, não seria Maradona. Humano fora de campo. Dentro dele, um deus. Um fora de série.Seria o roteiro perfeito: o "rei branco" do futebol, a versão do tango mais belo e triste de uma nação, banido de um Mundial, brigado com a Fifa, rejeitado na lista de bons moços, barbudo, gordo e desbocado, foi ao inferno e voltou - fazendo escala em Cuba -, líder de um time improvável, com uma classificação suada, uma cópia sua com a 10 e o nome Messi na frente, um título, um tapa de luva em Havelange e Blatter, a redenção de um homem ao levantar uma taça.

  Com todas las "manos de Dios".No cantinho da minha bola de cristal, também estou com o pressentimento que dá Bayern na Final da Copa dos Campeões. E que um volante brasileiro vai machucar em um treino e o Ganso vai, às pressas, para a África. Só assim passamos da Primeira Fase. Pena que acabou a pilha do meu sexto sentido antes que eu enxergasse os seis números da loteria...